No primeiro texto da reportagem, explicamos quase todos os critérios utilizados para definir os jogos de alta e média exigência competitiva disputados pelos principais "esquadrões" do futebol brasileiro no Século XX, a partir do segundo pós-guerra. Agora, os leitores vão saber um pouco mais sobre times que estão na lista e conhecer pelo menos um dado surpreendente.
O Vasco da Gama, conhecido como "Expresso da Vitória", cujo auge ocorreu entre 1945 e 1950, dá o marco inicial entre as duas dúzias seletas de times, que - no nosso entendimento - deveriam merecer dos pesquisadores sobre o nosso futebol as maiores atenções, ao se debruçarem sobre o período de plena profissionalização e crescimento vertiginoso do esporte a partir do segundo pós-guerra, alcançando o ano 2000.
Ao vencer o torneio Sul-Americano de 1948, como disputou seis jogos em competição internacional reconhecida como oficial - ainda que muitas décadas depois -, preencheu um dos requisitos que utilizamos para elaborar a "lista". Também optamos por avaliar equipes que com camisas de seleções estaduais, numa época em que não havia competições nacionais de clubes, protagonizaram duelos importantes contra adversários de outras regiões. Como se sabe, o Torneio Rio-São Paulo começou a ser disputado continuamente a partir de 1949-50 e constituiu o primeiro título além-divisa digno de nota no âmbito nacional. Tê-lo vencido, ou alcançado uma das quatro primeiras colocações em competições para todo o país, consistiu na outra condição para a escolha. Assim, todos os "esquadrões" jogaram ao menos 30 partidas, sendo seis de competição internacional e/ou 10 somando-se embates em certames "além-divisa" e um amistoso de torneio internacional. Quando uma Taça Brasil em que o time foi bem não assegurou número suficiente de jogos, outra edição entrou na amostra.
Duas situações mereceram avaliação mais detida na pesquisa. A primeira delas diz respeito a equipes que cederam maioria de jogadores para representar o Brasil em competições internacionais. Foram somados confrontos nestes torneios quando sete dos 10 jogadores de linha estavam em campo. A presença do mesmo treinador destes times no comando do selecionado também reforçou nossa opção por valorizar aqueles jogos. De resto, esta adição de cinco atletas principais de um time que marcou época com dois (sempre da linha), desde que o técnico colocou em campo esta "espinha dorsal", com o esquema tático escolhido de modo adequado para o melhor rendimento, balizou o ponto onde começa a verificação da trajetória. Exemplo: a Dorval, Zito, Coutinho, Pelé, Pepe e Cia, se acrescentou Mengálvio no Paulistão de 1960. Ali se inicia a amostra de partidas do melhor onze de todos os tempos.
Para os conjuntos que se formaram antes do Robertão de 1968, o primeiro campeonato nacional com organização da antiga Confederação Brasileira de Desportos (CBD), decidiu-se incluir na amostra alguns amistosos - preferencialmente evitando que eles chegassem a 10% dos confrontos -, por sua relevância histórica. Confiamos que eles não distorceriam a análise, ao menos, de forma mais drástica. Um problema crucial se impôs então: como julgar a Copa Rio de 1951, vencida por um dos melhores "esquadrões" já montados pelo Palmeiras? E reparem os leitores que não estou entrando no mérito se o Verdão precisaria ser aceito no grupo dos campeões mundiais, e nem pondo em pauta o dossiê preparado pelo clube paulista que apontaria envolvimento da Fifa no planejamento daquele torneio que reuniu agremiações da América e da Europa.
Pois vendo a competição como referência importante - independentemente do caráter que se queira atribuir a ela - quanto ao enfrentamento de brasileiros e clubes fortes do velho continente no começo dos anos 50, optamos por considerá-la no estudo. De resto, é imprescindível lembrar: não estamos falando necessariamente nos times mais qualificados do Século XX. Aqui, cabe uma outra explicação.
Naturalmente, o Grêmio de 1983 tem todo o direito de ser apontado como o melhor conjunto do tricolor gaúcho, pelos títulos que arrebatou. Entretanto, não obstante seu aproveitamento espetacular na Copa Libertadores da América (75% pelos critérios atuais de pontuação), durou tão somente aquela temporada. O raciocínio também atinge o Internacional de 1979, que faturou o (bastante esculhambado, com mais de 90 clubes!) Brasileirão sem perder. Aquele Colorado, primeiro time gaúcho a disputar finais do nosso mais importante torneio continental, manteve sua base por aproximadamente um ano e meio. Nossa opção foi privilegiar times que duraram quatro semestres, ou, dois anos, num olhar seletivo. Não defendemos que esta abordagem da História seja necessariamente a mais correta, ou verdadeira. Simplesmente, pensamos que esta duração mínima forneceria elementos mais ricos para um pesquisador mais distanciado do nosso futebol, por ventura.
Faço revelações aos leitores mais curiosos: dificílimo ao longo dos tempos ultrapassar a barreira de 60% nos jogos com grau considerável de competitividade para os grandes conjuntos que se formaram no país! Nenhuma agremiação, afora os fundadores do Clube dos 13, conseguiu entrar na lista. O Náutico Hexa Pernambucano, presença constante na antiga Taça Brasil, por exemplo, chegou perto, mas, na hora em que como instituição poderia crescer muito, pagou o preço por descuidos quase inacreditáveis, como o desconhecimento de uma norma da Taça Libertadores da América de 1968, que lhe acarretou decisiva perda de pontos. O Guarani, campeão brasileiro em 1978, também não passou neste crivo. E outros "esquadrões" que surpreenderem por não aparecerem no próximo texto também não....
Recordo que o levantamento adquire validade igualmente para recordar clubes médios (não quase grandes como o Bahia e a Portuguesa, ou pequenos....Ver Primeiro Texto da Reportagem) que mostraram razoável capacidade no enfrentamento com os timaços. Quando a conquista importante de uma agremiação assim esteve no semestre posterior ou anterior à sua participação nos inchados campeonatos nacionais dos anos 70, eles apareceram na amostra. Caso da Ponte Preta, vice-campeã paulista em 1977, que no Brasileirão 1976 já contava com Oscar, Polozzi e Dicá.
Finalmente, duas ponderações. Há controvérsias - sob um prisma do que é justo, não do que diz a regra - sobre considerar um jogo decidido na prorrogação como valendo um ponto ou três para o time vencedor. Em nosso estudo, o Brasileirão 1988 trouxe uma boa solução. Quando a equipe em questão bateu o oponente em tempo extra, ou com a partida empatada, este abandonou o campo pela quantidade de expulsões, atribuiu-se a ela dois pontos e não três, sem deixar de considerar que houve em essência uma vitória. Inúmeros pesquisadores, por certo, julgarão que somente clássicos contra adversários grandes ou quase grandes deveriam ser levados em conta nesse tipo de estudo; vários, em outro extremo, acreditam que o que importa é a totalidade pura e simples de confrontos do conjunto avaliado. Confio que a investigação, cujo resultado os leitores conhecerão na próxima e derradeira parte da reportagem especial, configurou um bom meio-termo, o qual permitirá uma visão abrangente de equipes brasileiras marcantes do Século XX.
1 comentários:
continuo ansiosa pela final da reportagem, principalmente pra saber como fica o Cruzeiro neste seu ranking. Eu mesma não sei dizer que time era melhor, 67? 76?
13 de março de 2010 às 17:06Postar um comentário