Esta reportagem especial não seria possível sem as preciosas colaborações de Alexandre Petry, combativo companheiro do Movimento InterAção, ligado ao Colorado do sul do Brasil, Alexandre Berwanger, torcedor racional que não perde o amor pelo Fluminense, Guilherme Nascimento, fã e profundo conhecedor do Santos, e o xará Marcelo Arruda, autor de um trabalho excelente e original de aplicação da estatística ao futebol, materializado no site Chance de gol, bem como adepto do São Paulo.
O Santos de Pelé é o time brasileiro do período do segundo pós-guerra ao final do Século XX (1945-2000) de melhor aproveitamento em JOGOS DE ALTA E MÉDIA EXIGÊNCIA COMPETITIVA NOS TORNEIOS EM QUE TEVE MELHOR DESEMPENHO E NOS CAMPEONATOS REGIONAIS DE SUA ÉPOCA. O "esquadrão", desde que, no Paulistão de 1960, somou Mengálvio a Zito, Dorval, Coutinho, o "Rei" e Pepe, alcançou, pelos critérios de hoje, 209 sobre 291 pontos! Um aproveitamento de 71,8% em 97 partidas, incluindo um confronto contra a então Alemanha Ocidental em que praticamente inteiro vestiu a camisa canarinho....único amistoso incluído na amostra escolhida de partidas! Repito: o espantoso desempenho corresponde ao modelo atual, com a vitória valendo três pontos, e o empate um!
Os leitores mais atentos observarão que a excelência do Peixe do começo dos anos 60 (a última temporada analisada foi a de 1965) não constitui propriamente a novidade no parágrafo acima. E obviamente estarão perguntando: "Bem, mas que o Santos do mais famoso camisa 10 de todos os tempos é tido como o conjunto insuperável da América do Sul no Século XX - inclusive pela Fifa, que estranhamente o preteriu em relação ao Real Madrid de Di Stefano.....- nós sabemos. O que este jornalista gaúcho quer dizer com ´jogos de alta e média exigência competitiva`? De onde apareceu esta idéia?"
Eis a grande questão, meus caros. Na verdade, a investigação surgiu a partir da descoberta do excelente site da rsssf Brasil (coloquem no Google e acrescentem a expressão Resultados Históricos.....), que contém simplesmente todos os resultados de competições que vocês possam imaginar da História do nosso futebol. Quem começou a acompanhar o esporte nos anos 70 sabe que em razão da ditadura militar - a qual adotou o lema "Onde a Arena, (partido que a sustentava), vai mal, um clube no Nacional" - o Brasileirão foi monstruosamente inchado com equipes pequenas naquela década. Então, uma outra curiosidade apareceu: se retirássemos duelos contra agremiações tecnicamente inexpressivas, quem ainda assim sairia como time marcante para todo o sempre daqueles tempos? E quem entre os conjuntos médios mereceria ser considerado numa temporada no que se refere aos embates contra os fundadores do Clube dos 13 e o Guarani (campeão do país com toda a justiça em 1978) para conclusões razoáveis sobre a performance dos vencedores?
Assim, várias definições de critérios históricos foram se colocando. Este pequeno estudo que aqui divulgarei em partes até março, é bom esclarecer, não tem a pretensão de definir os melhores "onzes" brasileiros do Século XX. Prefiro falar nos "mais marcantes (e não marcadores!)". Aliás, não abordei nenhum conjunto formado anteriormente a 1945. Eis alguns motivos:
1) É somente em 1949-50 que uma competição além-divisa passa a ser disputada com continuidade e classificação que valorizava desempenhos dentro das quatro linhas. Refiro-me ao Torneio Rio-São Paulo, na época da inauguração do Maracanã. O profissionalismo indiscutivelmente já alcançara dimensão nacional.
2) É igualmente nesta fase que um clube brasileiro consegue o primeiro título internacional de grande expressão na América, embora a envergadura da conquista só fosse reconhecida muito tempo depois. Em 1948, o Vasco da Gama arrebata o Sul-Americano.
3) O futebol brasileiro se consolida como um dos melhores do mundo, primeiro, com o vice na Copa de 1950, e depois, passado o fenômeno da Hungria de Puskas, como o mais prestigiado entre os que alcançaram o topo nas competições principais entre seleções.
Procurei avançar também na compreensão dos níveis dos clubes no país. Trabalhei, então, com 5 padrões, e aqui obviamente não vai nenhum desrespeito às paixões das torcidas, visto que levei em conta fundamentalmente conquistas e quantidades de fãs:
a) Clubes grandes. Aqueles que fundaram o Clube dos 13, e que atuam nos quatro estados que mais acumulam títulos no Brasil.
b) Clubes quase grandes. Aqueles que alcançaram conquistas importantíssimas ao longo da História, mas que - por razões que fogem ao âmbito desta matéria - não chegaram a se sustentar propriamente entre os maiores do futebol brasileiro, ou, estão muito próximos disso, mas ainda não contam com o mesmo status de Flamengo, Corinthians, São Paulo, Internacional, Grêmio, Cruzeiro, Etc. Exemplos, por estas diferentes causas, seriam a Portuguesa até a década de 90 e o Atlético-PR.
c) Clubes médios. Aqueles que conseguem marcar alguma presença nacionalmente, mas que não chegaram a arrebatar títulos mais expressivos até pouco tempo atrás. Citaria os três pernambucanos. Mesmo o Santa Cruz, hoje na quarta divisão, chegou a ficar entre os quatro primeiros do Brasileirão, em 1975. O Goiás atual seria outro exemplo, mas não reputaria como absurdo considerá-lo quase grande.
d) Clubes pequenos, mas não no contexto estadual, e que, ao aparecerem nacionalmente, surpreenderam nos duelos contra pelo menos um grande. Recorro outra vez ao Goiás, agora remetendo aos anos 70. Naquela época, o clube da região centro-oeste chegou a ficar invicto durante razoável período contra o Santos. Sem perder no estado de São Paulo.
e) Clubes pequenos. Os leitores já entenderam meu raciocínio.
Pois assim avancei para uma amostra de jogos que excluiu completamente os que se encaixariam no item "e". Como não vou satisfazer completamente a curiosidade de vocês neste primeiro texto da série, usarei o tempo inteiro o Santos de Pelé nas hipóteses para explicação. Que partidas entraram nas amostras para chegar aos "24 Onzes"?
a) Todas aquelas jogadas por competições internacionais de importância reconhecida. Exemplo: Copa Libertadores da América.
b) Todos os clássicos estaduais, inclusive, no caso de Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, contra os Américas e a Portuguesa.
c) Os confrontos com os times que foram vices num dos principais estaduais até o segundo ano a contar do vice. Exemplo: se o Botafogo de Ribeirão Preto fosse o vice do paulistão 1960, seus jogos contra o Santos seriam considerados até 1962 (esta temporada incluída).
d) Os confrontos com as equipes que foram campeãs nos principais estaduais até o décimo ano a contar do título. Exemplo: se o Botafogo-RP fosse campeão paulista em 1960, seriam consideradas suas partidas contra o Santos até 1969.
e) Os embates inéditos com times que despontaram em outros estados. Exemplo: na antiga Taça Brasil, o Santos entrava nas semifinais diretamente. E boa parte das vezes, enfrentava equipes do nordeste. Porém, se as chaves o direcionassem para um duelo com o antigo Metropol - que se destacou em Santa Catarina - os primeiros jogos oficiais na História contra aquele clube seriam levados em conta. Não se saberia até onde o adversário do Peixe poderia chegar. Uma superação da máquina de Pelé e Cia. poderia representar muito para o clube do interior catarinense.
f) Os embates contra as principais equipes dos estados que puseram representantes entre os dois primeiros de competições nacionais e entre os quatro com certa regularidade entre 1959 e 1979: Bahia, Minas Gerais, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo.
g) Pela mesma linha de raciocínio no item e, um jogo inédito contra uma agremiação refundada seria levado em conta. Exemplo: Comercial e Botafogo-RP poderiam se fundir durante alguns anos para fortalecer o futebol de sua região no interior paulista. Se depois disso, houvesse uma separação, e o Botafogo, que até onde sei possui um pouco mais de força histórica, voltasse a se organizar em outros moldes, seu primeiro confronto oficial em nova fase contra o Santos seria levado em conta.
h) Os confrontos contra equipes que apareceram entre os 10 primeiros dos Brasileirões, mesmo quando inchados, até um ano antes da temporada analisada, ou, na mesma. Se o aproveitamento de um clube médio no período em questão contra um grupo levemente ampliado das principais equipes do país, entretanto, fosse inferior a 40% (sempre lembrando: pela pontuação atual) numa época muito próxima, o jogo poderia não ser levado em conta. Exemplo: se o Santos de Pelé já disputasse um Brasileirão, e enfrentasse o Coritiba quinto colocado três anos antes (como foi em 1972...), mas que na temporada imediatamente anterior tivesse ganho só um terço dos pontos contra adversários fortes, a partida não seria levada em conta, pois por parâmetros técnicos possivelmente o Coxa não devesse estar na competição.
i) As partidas contra adversários que se mostraram capazes de faturar um título de torneio no exterior, em um país de ponta no universo do futebol, na mesma temporada. Exemplo: em 1962, o Botafogo-RP conseguiu êxito desse tipo contra equipes da primeira divisão da Argentina. Seus embates no Paulistão com o Santos foram considerados.
j) Um jogo contra adversário que eventualmente estivesse apresentando equilíbrio ou superioridade no retrospecto contra um clube grande. Veja-se o exemplo do Goiás na definição adotada para os níveis das agremiações no país.
l) Um confronto decisivo relativo a um turno de competição. Exemplo: se nos anos 60, o Paulistão não fosse jogado na fórmula clássica do turno e returno com pontos corridos, e o Botafogo-RP, sem currículo expressivo anterior, lá pelas tantas decidisse uma das fases em partida única contra o Santos, este duelo entraria na amostra.
m) Se, naquela época, o Estadual de São Paulo tivesse uma fase "metropolitana-litorânea", e o Juventus terminasse na frente do Palmeiras, do Corínthians e do São Paulo, suas partidas contra o Santos, durante aquela etapa (e não na temporada seguinte), seriam levadas em conta.
Com estes 12 critérios, chega-se a uma visão da trajetória de equipes marcantes dos Brasileirões "inchados" que permite melhor comparação com os desempenhos dos campeonatos nacionais do presente. Na continuação desta grande reportagem, vocês saberão como foram delimitados os períodos de atuação dos 24 "Onzes" que passaram pelo crivo proposto. Não percam!
Vejam a segunda parte deste estudo
Vejam a segunda parte deste estudo
1 comentários:
Dá gosto de ver um post como esse. Só nos acrescenta!
14 de fevereiro de 2010 às 12:14Já estou no aguardo do próximo! :)
Parabéns Dorneles e colaboradores.
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