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Três Seleções: Hungria, Brasil e Holanda

10 de jun. de 2010

Groics, Buzansky, Bozsik, Zakarias (que também atuava como o que chamaríamos hoje de volante, mais à frente....) e Lantos; Lorant e Czibov, Toth, Kocsis, Hidegkuti (peça-chave, avançando e recuando, dentro do esquema tático que variava ) e Puskas. Treinador: Gusztav Sebes. Eis, leitores, a Hungria, vice-campeã mundial, que conheceria a única derrota em seis anos, justamente, por 3X2 na final do torneio da Suíça, em 1954!

É conhecido o fato desta seleção ter sido a primeira a golear a Inglaterra pouco tempo antes, no mítico estádio de Wembley. O processo de formação do lendário conjunto magiar começara após a estruturação do exército do regime imposto pelos soviéticos após a segunda guerra mundial. Não entra no foco das discussões neste blog a natureza verdadeira do sistema conhecido por "socialismo real", ou, - de maneira completamente equivocada, de acordo com a doutrina marxiana original - "comunismo".

O que importa futebolisticamente para a História consiste no papel que o Honved, time ligado àquela força armada, assumiu a partir do trabalho de Gusztav Sebes, mais do que um técnico, um diretor esportivo competente capaz de introduzir métodos inovadores de preparação física para aquela época. A diferença era tal que, na maioria dos jogos, bem antes da metade do primeiro tempo, os húngaros já impunham aos adversários uma diferença de dois gols. A base selecionada vinha da corporação.

A condição atlética permitia uma movimentação que esgotava os rivais e variações táticas igualmente revolucionárias. O defensor Zakarias tanto se somava ao meio-de-campo como compunha a linha mais recuada, consolidando a definição de "quarto zagueiro". No ataque, o centroavante Hidegkuti trocava de posição com Puskas, o "Major Galopante", recuava, assegurava que a Hungria passasse do esquema 3-2-3-2 assimétrico para um 4-2-4. Marcação por todo o campo e ousadia ofensiva: uma antecipação inesquecível do futebol total. A matriz do que de melhor o futebol gaúcho produziu, por exemplo, (o Grêmio de Osvaldo Rolla, logo em seguida, com influência direta; o Internacional de Rubens Minelli, com mais acréscimos proporcionados por diferentes experiências, Bi-Campeão Brasileiro nos anos 70....) situou-se naquele momento de valorização plena da dimensão coletiva do esporte.

A campanha de 1954: 9X0 sobre a Coréia do Sul; 8X3 sobre os reservas da Alemanha Ocidental; 4X2 contra o Brasil, no confronto imortalizado como a "Batalha de Berna" e um 2X2 no tempo normal, com 2X0 na prorrogação, impondo ao Uruguai, ainda com a base de 1950, a primeira derrota em copas do mundo! O cansaço deste jogo, aliás, seria fatal para os magiares na finalíssima com os alemães.

Todos sabem da virada heróica por 3X2, mas quem examinar as imagens daquela decisão perceberá uma injustiça ao fim da jornada. Um gol, ao que tudo indica, plenamente legal de Puskas foi anulado. Teria um peso demasiado grande um país da Europa Oriental, naqueles tempos de guerra fria, se consagrar como o de melhor e mais revolucionário futebol em todos os tempos? Talvez.

Félix, Carlos Alberto, Brito, W. Piazza e Everaldo; Clodoaldo, Gérson, Pelé e Rivelino; Jair e Tostão. Ou seriam: Clodoaldo, Gerson, Tostão e Rivelino; Pelé e Jair? Ou ainda: Gerson, Clodoaldo, Tostão e Rivelino; Jair e Pelé? Treinador: Mário Jorge Zagalo. Eis a Seleção Brasileira de 1970. A de aproveitamento insuperável. 100%! Na Copa daquela temporada, bateu, em seis partidas, uma vice-campeã do Mundo (a Tchecoeslováquia) e nada mais, nada menos, do que três campeãs: a Inglaterra, o Uruguai e a Itália (que há muito não tinha boa participação em copas....), com um retumbante 4X1 na decisão, mesmo placar imposto aos tchecos na estréia.

A criatividade de um técnico então iniciante, a partir da base montada pelo jornalista João Saldanha, garantiu os melhores de uma geração arrebatando alegrias de diferentes torcidas, tal a demonstração de habilidade sustentada por excelente preparação tática e física. Na final contra a Itália, por exemplo, de primeiro tempo equilibrado, Tostão recuava para buscar a articulação das jogadas (e, sim, assediar os italianos, ajudando na marcação!), com Rivelino, deixando Pelé e Jairzinho mais à frente. Gerson e Clodoaldo se revezavam nas funções de meia-armador (a segunda função do meio-de-campo naquele período, de caráter mais ofensivo do que a do segundo volante hoje....) e centromédio. Todos acomodados, com improvisações que deram certo, num selecionado cuja obra, sob alguns aspectos, supera a do vencedor dos torneios de 1958 e 1962. O mérito de Zagalo muitos anos depois foi ressaltado por Tostão, um ex-craque com plena compreensão dos acontecimentos da época.

Não obstante a grandeza incontestável do conjunto que revelou Pelé para o mundo, na Escandinávia, há a ressalva da inferioridade numérica da França (causada por lesão de um jogador em dividida com o centroavante Vavá....não eram permitidas substituições....) na semifinal vencida por 5X2. Na campanha do Brasil no México, rigorosamente nada a reparar! 4X1 na Tchecoeslováquia, 1X0 na Inglaterra, 3X2 na Romênia, 4X2 no Peru, 3X1 no Uruguai e....a final definida no segundo tempo, pelo abismo de preparo físico que separava as equipes, em boa parte. Quando sofreram o quarto gol, no chutaço de Carlos Alberto, os italianos mal suportavam ficar de pé, sentindo os efeitos da semifinal em que só conseguiram superar a Alemanha na prorrogação.

Também no caso da Seleção de 1970, não se pode omitir a influência ditatorial. O regime militar apostou muitas fichas no sucesso em terras astecas, para reforçar o clima de euforia instituído pelo chamado "Milagre Econômico", enquanto nos porões a regra era a tortura contra os prisioneiros políticos. O staff da Escola de Educação Física do Exército se envolveu diretamente com o "Escrete Canarinho". Estavam nele dois futuros treinadores: Cláudio Coutinho e Carlos Alberto Parreira. Durante dois meses, houve a preparação no México, quanto ao clima e à altitude. Zagalo, no livro "As lições da Copa", reputa como imprescindíveis as horas dedicadas ao estudo dos oponentes e a possibilidade de contar com o que havia de mais moderno em metodologias esportivas, há exatas quatro décadas, para o triunfo espantoso.

Jongblod, Suurbier, Haan, Rijsbergen e Krol; Jansen, Neeskens e Van Hanegem; Rep, Cruyff e Resenbrink. Treinador: Rinus Michels. Eis a Holanda de 1974. O futebol total desenvolvido pela Hungria, que atingira o ápice com um pouco mais de talento e pouca coisa menos de marcação com o Brasil de 1970, acrescentava nos estádios alemães a tática do impedimento, filha da marcação por pressão adiantada, e as triangulações.

O esquema 4-3-3 perdia completamente a rigidez. É conhecida a afirmação do técnico Michels de que o alto nível de inteligência dos atletas sustentava uma série de variações, uma abolição de posições fixas (principalmente do ponto de vista ofensivo), que perturbavam completamente os adversários. Na trajetória, os holandeses atropelaram um vice (Argentina) e dois campeões mundiais (Brasil e Uruguai), deixando de ganhar somente da Suécia, antes da final. 2X0 nos charruas, 0X0 com a vice-campeã de 1958, 4X1 na Bulgária, 4X0 na Argentina, 2X0 na Alemanha Oriental e 2X0 no Brasil. Contra o conjunto canarinho, um bombardeio, e a concessão de uma única oportunidade, quase ao fim do primeiro tempo. Nos 45 minutos iniciais, a seleção, ainda comandada por Zagalo, sofreu com cinco impedimentos. Na segunda etapa, uma inversão de Cruyff com Neeskens resultou em um belíssimo tento, traduzindo a completa superioridade diante dos campeões da copa anterior. Já não atuavam Carlos Alberto, Gerson, Tostão e Pelé, evidentemente. Além de Clodoaldo, ausente por lesão. O Super-Time de 1970 era pura memória. A "Laranja Mecânica" (apelido que evocava um filme de Kubrick) ia para a decisão com os donos da casa.

Na final contra a Alemanha, a virada por 2X1 premiou a seriedade na marcação, a concentração e a enorme categoria de vários germânicos ocidentais. Não se pode falar em injustiça. A Holanda já exibira as melhores possibilidades do futebol. E alinhara-se ao lado da Hungria e do Brasil na meia-dúzia seleta de seleções para todo o sempre. Em 1978 na Argentina, Cruyff, um centroavante de múltiplos papéis, se recusaria a estar presente, protestando contra a ditadura militar, séria candidata à de maior crueldade na segunda metade do Século XX, ao menos na América do Sul.

1 comentários:

Anônimo disse...

prezado Marcelo: teu texto é uma aula de futebol. estabelece conexões próprias de quem ultrapassa o gosto pelo futebol meramente factual com base na emoção superficial. O texto apresenta relações e reflexões de alguém que pensa o futebol e oferece ao leitor informações históricas muito interessantes. Grande abraço, Léo.

26 de junho de 2010 às 10:16

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