Olá, leitores, torcedores de diferentes times do país.
Pois amanhã me lembrarei, por certo, daquela tarde de dezembro. Em 1975, o Brasil vivia sob uma ditadura, o mundo via o Vietnã vencer a máquina de guerra do imperialismo norte-americano, a União Soviética e seus satélites já patinavam na estagnação econômica que liquidaria o modelo das sociedades pós-revolucionárias (que eu particularmente não considero que foi socialista e muito menos comunista.....), a cultura brasileira tinha nas criações musicais de Chico Buarque e Tom Jobim uma base para se manter grande, apesar da censura, e eu só queria saber de estudar, ler e jogar bola, além de ver o Internacional, claro.
E a que Time eu podia assistir! Naquela tarde, o jogo foi nervosíssimo. O adversário era de qualidade quase igual. A diferença posteriormente entendi - muitos anos depois pesquisando a história do futebol gaúcho, também por dever profissional - que se chamava Paulo César Carpegiani. Naquela temporada, fora o melhor jogador colorado. Acima de Figueroa, Falcão, Valdomiro e Lula. Na campanha de 1975, é notável a queda no desempenho do Inter quando o craque, que brilharia com menos intensidade no Flamengo pouco tempo depois, se ausentou por lesão. Naquela tarde, nublada, com um raio de sol que ficaria famoso a certa altura da segunda etapa, o camisa 10 deixou Chico Fraga e Lula à vontade para concluir em condições favoráveis. O lateral reserva chutou na rede pelo lado de fora; o ponta-esquerda (sim, jovens, quando eu comecei a acompanhar o mais popular dos esportes, os times eram ousados e jogavam no 4-3-3, ou seja, com dois "ponteiros" e um centroavante.....) na trave! Nestas alturas, depois deste último lance, a partida já registrava seu único gol.
O cabeceio do "capitão dos Andes" nasceu de uma falta que era escanteio. Porém, os deuses do futebol - se existem - provavelmente conspirariam para que Valdomiro acertasse aquele cruzamento. A especialidade do símbolo daquela época vitoriosa. E, lógico, haveria os chutes de Nelinho e a notável performance do goleiro Manga. Do que mais me lembro é a torcida cantando, com a melodia de "Celito Lindo": "Ai, ai, ai, ai.....tá chegando a hora!/ O dia já vem raiando, meu bem..../ Eu tenho que ir-me embora!"
Tudo desembocou naquela tarde para o futebol do Rio Grande nunca mais se conformar com pouco. A Revolução comandada pelos Mandarins nos primórdios da Era Beira-Rio, com o princípio de que jogadores só poderiam vestir a belíssima camisa vermelha se apresentassem duas das três características fundamentais: força velocidade e habilidade; a mobilização do povo alvirubro, sentindo que aquele título viria, teria que chegar, estava amadurecendo, após uma campanha com ótimo aproveitamento contra adversários fortes, ou não; e a mescla muito bem sucedida de atletas formados em casa com outros trazidos de fora.
Não foi só por aquela final de Campeonato Brasileiro - a primeira reunindo clubes de fora do eixo Rio-São Paulo - que Internacional X Cruzeiro se tornou o maior clássico envolvendo gaúchos e mineiros, e um dos melhores do país. Em 1972, uma virada do Colorado por 3X2 em um quadrangular nas quartas de final da competição, matou torcedores por ataque cardíaco. Ninguém esquece o 5X4, desta vez favorecendo o Cruzeiro, na Libertadores da América 1976, espetacularmente conquistada pela agremiação de Belo Horizonte. Ao final da década, equilíbrio no número de vitórias em confrontos oficiais, com pequena vantagem para a Raposa no número de gols.
Acredito que com a liberação acertada de Sandro da Seleção Brasileira Sub-20, num acordo que não retirou Guiliano do grupo, mas acabou sendo razoável para todas as partes, Adenor Tite chega à decisivíssima rodada com totais condições de colocar em campo uma formação capaz de um triunfo categórico. Entretanto, respeito obviamente, mesmo com eventuais desfalques, o conjunto de Adílson Batista, o qual parece estar com dificuldades de relacionamento com os "boleiros". Como creio que o Palmeiras não derrotará o Vitória em Salvador, a esperança é considerável, no sentido de que o Inter arrebate a liderança do Campeonato Nacional neste domingo. Desde que não menospreze um rival vice-campeão da América.
Não obstante uma eventual chegada ao topo da tabela, muito caminho ainda haverá pela frente para terminar de maneira inesquecível esta temporada do Centenário. A começar pelo mesmo oponente baiano que há de complicar as coisas para o conjunto de Muricy Ramalho, amanhã, na "Boa Terra". Se terá ainda maiores méritos faturar um Campeonato Brasileiro com a mais justa das fórmulas, na comparação com 1975? Bom, sobre isto escreverei outro dia se o aproveitamento do Colorado permitir.
Related Posts:
Assinar:
Postar comentários (Atom)
0 comentários:
Postar um comentário